רוּחַ־אֱלֹהִים (Ruah Elohim - Espírito de Deus E SUA IMPLICAÇÃO QUANTO CARACTERIZAÇÃO DE UM SER DISTINTO NA DIVINDADE






* Este artigo foi retirado de um trabalho acadêmico, os termos em hebraico foram em sua grande maioria transliterados.
quaisquer dúvidas entrem em contato através de comentários, ou do email. vinicius.resende@vragencia.com


1.  INTRODUÇÃO

O vocábulo רוּחַ (ruah - Espírito) é um termo de acentuada expressão no material bíblico veterotestamentário e de raio semântico diversificado, contudo seu sentido mais comum é apresentado basicamente como “vento”, “sopro” e “espírito” (TENGSTRÖM, 2004). Sua ocorrência é de trezentos e oitenta e nove vezes nas Escrituras Hebraicas (EVEN-SHOSHAN, 1983), sendo que dessas, onze se acham na porção aramaica do livro de Daniel. Relacionando-se à divindade, o termo רוּחַ (ruah) acontece em média cento e sete vezes no AT (WOOD, 1976); anexado ao vocábulo אֱלֹהִים (Elohim - Deus) a ocorrência é de quinze vezes nos escritos hebraicos e outras cinco na porção aramaica de Daniel. Semelhantemente, a expressão ocorre vinculada a יְהוָה (YHWH - Adonai ou Jeová) umas vinte e sete vezes. Acrescendo-se, o termo רוּחַ (ruah) acontece reiteradas vezes em conotações antropológicas, vinculado à disposição e variados estados emotivos da natureza humana (HILDEBRANDT, 1995). Considerando-se esta grande incidência no material bíblico a presente abordagem preferenciará aquelas em que, de fato, o termo aparece grafado em nexo com אֱלֹהִים, i.e., רוּחַ־אֱלֹהִים (Ruah Elohim - Espírito de Deus) perspectivando, portanto, extrair desde o texto o que acerca desta expressão se acha disposto. Contudo, em momentos em que contextualmente a expressão incidir de modo paralelo a outras equivalentes, alguns aportes neste segmento também serão considerados.
O estudo estará reunindo passagens em que acontece a expressão hebraica רוּחַ־אֱלֹהִים (Ruah Elohim - Espírito de Deus)e seus contextuais equivalentes, dispondo-os, neste seguimento, em ordem temática, objetivando sublinhar as informações que fornecem um possível desenvolvimento do tema no cânon do Antigo Testamento. Nesta perspectiva temática, serão notados o relacionamento do termo רוּחַ־אֱלֹהִים (Ruah Elohim - Espírito de Deus) como presente e ativo no tema da criação bem como no ministério profético; seguindo-se, será reiterada sua participação na habilitação administrativa e artísticas arquitetônico-artesanal e, ainda, a análise buscará ser atentiva quanto ao termo no que se saliente a características de pessoalidade e, concluindo, se, de fato, a expressão contextualmente admita ou indique nuances de um ser distinto na divindade.

2.  רוּחַ־אֱלֹהִים E A CRIAÇÃO

            A expressão רוּחַ, de fato, aparece pela primeira vez na Bíblia em Gen. 1:2 vinculada ao vocábulo אֱלֹהִים. O contexto de criação, portanto, é indiscutível. No entanto, embora haja discussão quanto a רוּחַ־אֱלֹהִים sendo o agente através do qual a criação acontece (NEVE, 1972; YOUNG, 1960-61) ou não, fato inegociável é que sua presença acha-se registrada no texto.
            Evidências intratextuais autenticam não apenas a marcante presença do רוּחַ־אֱלֹהִים no relato da criação, como também sua pessoalidade, que se evidencia pelo verbo Rahaf, conforme será melhor elucidado adiante. Abordagem semelhantemente importante acerca desta temática ora apresentada se observa no livro de Jó 33:4 onde diz: “O רוּחַ־אֱלֹהִים me fez; o sopro do Todo-Poderoso me deu vida”.

3.  רוּחַ־אֱלֹהִים E O MINISTÉRIO PROFÉTICO

            De maneira muito clara no AT, nota-se a ativa atuação do רוּחַ no que se refere ao dom profético. As atividades do נָבִיא (nabi - profeta) ou רֹאֶה (roeh - vidente) eram intimamente ligadas à ação, i.e., à guia do רוּחַ, que se apoderava daquele dando-lhe a capacidade de profetizar. A primeira ocorrência em que se evidencia o רוּחַ tendo uma forte influência no que diz respeito a este contexto profético, encontra-se em Números 11 onde se apresenta o relato da escolha de setenta anciãos que ao receberam o רוּח que estava sobre Moisés, passaram a profetizar. O texto é claro em demonstrar que o fato de profetizarem estava diretamente ligado ao recebimento do רוּח, pois Medade e Eldade (que estavam entre os inscritos, mas não se juntaram ao grupo dos setenta na tenda da congregação), também receberam o רוּח e passaram a profetizar como os demais no meio do arraial.
Semelhantemente, pode-se ver a forte atuação do רוּח ou רוּחַ־אֱלֹהִים no relato do profeta gentio Balaão, conforme se acha registrado em Números 23 e 24. Ao receber propostas financeiras de Balaque, rei de Moabe, para que amaldiçoasse os filhos de Israel, Balaão se propõe a falar apenas o que o יהוה lhe ordenasse. Em Números 24:1-2, é dito que ao contemplar Israel que estava acampado no deserto, veio sobre este profeta o רוּחַ־אֱלֹהִים, e, em face disto, ele dá início ao seu terceiro e quarto oráculos proféticos. Mais uma vez, claramente a profecia se relaciona intimamente com o רוּחַ־אֱלֹהִים.
Estes episódios apresentados acima não são casos isolados. Em todo o AT é notório a presença marcante do רוּחַ־אֱלֹהִים em contextos proféticos, tais como em II Crônicas 15:1 onde o profeta Azarias é tomado pelo רוּחַ־אֱלֹהִים e transmite Sua mensagem, fato semelhante ao que se encontra em II Crônicas 24:20 onde o profeta Zacarias passa  por um episódio parecido; de maneira especial, nos momentos iniciais da carreira monárquica de Saul, é dito, conforme se apresenta em I Samuel 10:10 que ao encontrar um grupo de profetas a descer do monte, o רוּחַ־אֱלֹהִים  se apodera de Saul de tal maneira que este começa a profetizar no meio deles, sendo até alvo de um dito que se tornou popular na época: “Está também Saul entre os profetas?
Poderia se encerrar esta seção com o comentário de Eichrodt (2005) no que se refere à fala (palavra) provinda do profeta movido pelo רוּחַ: “Como um poder cósmico de Deus, portanto, a palavra ocupa muito o espaço destes homens que no pensamento popular foram ocupados pelo רוּחַ, e os capacita para discernir o controle direto de Deus sobre a história”.

4.  רוּחַ־אֱלֹהִים E A HABILITAÇÃO ADMINISTRATIVA E ARTÍSTICAS ARQUITETÔNICO-ARTESANAL

O רוּחַ־אֱלֹהִים também tem lugar nos contextos em que se notam dotações para liderança governamental e mesmo bélicas, como semelhantemente o termo figura de forma ativa em passagens relacionadas às projeções arquitetônicas e artesanais ligadas à construção do tabernáculo mosaico. Quanto ao exercício de liderança administrativa nota-se inicialmente o referido a José, que quando no Egito ao interpretar o sonho de Faraó e prover medidas que solucionariam a crise que se daria nos anos de fome, este acerca dele dissera: “Poderíamos achar um homem como este, em quem haja o Espírito de Deus (רוּחַ־אֱלֹהִים)?” (Gen. 41:28). Nota-se mesmo nas palavras deste monarca politeísta que a sua percepção da sugestão administrativo-preventiva expressa por José seguida da interpretação do sonho – o que já sugere uma nuance profético-revelatória, era algo supra-humano, algo, de fato, devido à divindade, i.e., o רוּחַ־אֱלֹהִים. Ainda neste segmento pode se notar episódios como o disposto em Num. 11 quando são apontadas setenta pessoas para auxiliar Moisés nas atividades de julgar questões entre povo. Nesta perspectiva em referindo-se ao período dos juízes J. M. Miller apontando o papel destes como libertadores do povo, sinaliza que sob atuação do רוּחַ־אֱלֹהִים os juízes geralmente tornavam-se em figuras militares (MILLER, 1996), administradores com conotações relativamente judiciais. Notoriamente é percebido no livro de Juízes que por meio do רוּחַ יְהוָה representantes do povo foram capacitados para iniciativas que os libertava dos opressores de modo diverso, proporcionando, assim, repouso temporário. Portanto, como bem reporta Hildebrandt “em cada estágio da história יְהוָה dá a Israel líderes que são habilitados pelo רוּחַ para seus vários papeis” (HILDEBRANDT, 1995).

5.  רוּחַ־אֱלֹהִים E SUAS CARACTERÍSTICAS DE PESSOALIDADE

  5.1 PESSOALIDADE NO RELATO DA CRIAÇÃO

Conforme já prenunciado acima, uma análise do verbo רָחַף (Rahhaf - Pairar) (conjugado em Gen.1:2:מְרַחֶפֶת  - Merahhephet - Pairava) se faz necessário para melhor compreensão da pessoalidade do רוּחַ־אֱלֹהִים. Aspectos importantes se destacam acerca deste verbo:
  a)    Em nenhuma ocorrência no AT se registra seu emprego em substantivos que denotem impessoalidade, como um vento, um sopro ou uma energia. Seu emprego em Gênesis tem como sujeito רוּחַ־אֱלֹהִים (Espírito de Deus) e não apenas רוּחַ (espírito, sopro). Esta última opção não é registrada em nenhuma ocorrência no AT.
  b)    O verbo רָחַף será usado apenas duas vezes mais: uma em Jer. 23:9 – “...todos os meus ossos estremecem... (רָֽחֲפוּ)” –  que é traduzido por estremecer, e outra, que mais aproximada do sentido apresentado em Gen. 1:2 se encontra em Deu. 32:11 – “Como a águia desperta a sua ninhada e voeja (יְרַחֵף) sobre os seus filhotes, estende as asas e, tomando-os, os leva sobre elas...” – onde o termo é traduzido por voejar, mostrando o cuidado que a águia tem sobre seus filhotes.
Estas implicações quanto ao רָחַף sugere a proposição de que o sujeito que recebe a ação verbal não reflete alguma força ou energia impessoal, antes, seu significado pleno aponta para um ser pessoal ou pelo menos diferente de um vento.

  5.2                        PESSOALIDADE EM ISAÍAS

Abordagem igualmente interessante acerca do רוּחַ se nota nos escritos de Isaías. No capítulo 63:10-11 este vocábulo aparece acompanhado de uma outra palavra sufixada  קָדְשׁוֹ (Qodesho - seu Santo). Há apenas três ocorrências onde aparecem estes vocábulos juntos קֹדֶשׁ רוּחַ (Qodesh Ruah  - Espírito Santo) em todo o AT. Em Isaías 63: 10-11 o fenômeno ocorre duas vezes, uma em cada verso, sendo que primeira ocorrência destes dois termos juntos sucede em Salmo 51:11, com o vocábulo קֹדֶשׁ também sufixado.
Isaías 63:10-11:
וְהֵ֛מָּה מָר֥וּ וְעִצְּב֖וּ אֶת־ר֣וּחַ קָדְשׁ֑וֹ וַיֵּהָפֵ֥ךְ לָהֶ֛ם לְאוֹיֵ֖ב ה֥וּא נִלְחַם־בָּֽם׃
וַיִּזְכֹּ֥ר יְמֵֽי־עוֹלָ֖ם מֹשֶׁ֣ה עַמּ֑וֹ אַיֵּ֣ה׀ הַֽמַּעֲלֵ֣ם מִיָּ֗ם אֵ֚ת רֹעֵ֣י צֹאנ֔וֹ אַיֵּ֛ה הַשָּׂ֥ם בְּקִרְבּ֖וֹ אֶת־ר֥וּחַ קָדְשֽׁוֹ׃

Segundo Robert Morey (1996), esse texto de Isaías é um documento corroborativo que comprova a personalidade do Espírito Santo. Morey destaca dois aspectos que dão características pessoais ao Espírito Santo:
a)    A expressãoוְעִצְּבוּ    (weitsebu - entristecer, contristar) carrega em si características de sentimentos comuns a seres pessoais e pensantes. Esta mesma expressão aparece em II Sam. 19:1-2, quando discursa acerca da profunda tristeza que Davi sentiu pela perda de Absalão, seu filho, e em Gen. 6:6 quando ao ver a raça humana num grau elevado de degeneração pecaminosa, Deus “cai” numa imensa tristeza em seu coração.
b)    Numa análise da palavra מָרוּ (maru - desobediência, rebelião), Morey acentua que só pode ser entristecido por causa de uma rebelião ou desobediência, um ser pessoal e não uma mera força impessoal (MOREY, 1996).

Ainda no livro de Isaías, veem-se mais ocorrências onde se pode identificar a pessoalidade do Espírito Santo. No capítulo 40: 13-14, despois de uma sequência de perguntas iniciadas no verso 12, os versos seguintes dão seguimento aos questionamentos que claramente propõem tratar-se de um ser pessoal:

Isaías 40:13-14:
מִֽי־תִכֵּ֥ן אֶת־ר֖וּחַ יְהוָ֑ה וְאִ֥ישׁ עֲצָת֖וֹ יוֹדִיעֶֽנּוּ׃
אֶת־מִ֤י נוֹעָץ֙ וַיְבִינֵ֔הוּ וַֽיְלַמְּדֵ֖הוּ בְּאֹ֣רַח מִשְׁפָּ֑ט וַיְלַמְּדֵ֣הוּ דַ֔עַת וְדֶ֥רֶךְ תְּבוּנ֖וֹת יוֹדִיעֶֽנּוּ׃

13 “Quem guiou o Espírito do SENHOR? Ou, como seu conselheiro, o ensinou?”
14 “Com quem tomou ele conselho, para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?”
Semelhantemente as perguntas feitas a Jó, no fim de seu livro, estas questões não carecem de respostas uma vez que se trata de perguntas retóricas, tendo uma mesma resposta: ninguém. Entretanto, nestes versos percebe-se um ser que não precisa ser guiado; que não precisou de conselheiro, mas é sabedor; que não precisou de conselhos para ter compreensão e que é instruído na vereda do juízo, que tem sabedoria e entendimento. Naturalmente que aplicar estas características todas, a uma mera força ou vento, uma energia impessoal é, utilizar-se de bastante eufemismo, no mínimo uma incongruência. Somente um ser pessoal, pensante e, por que não, divino (comparando-se a Jó), para possuir tais características.
Ainda em outras ocorrências não abordadas aqui, mas com significativas nuances quanto à pessoalidade do רוּחַ são atestadas em Isaías nos capítulos 48:12-17, com ênfase no v. 16, o capítulo 42:1 e o  61:1.

6.  רוּחַ־אֱלֹהִים E SUA DISTINGUIBILIDADE NA DIVINDADE: UM CONTRASTE ENTRE רוּחַ־אֱלֹהִים E רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה

Um olhar atentivo sobre o AT em sua língua original demonstrará certa similaridade nas expressões que são traduzidas para o português e outras línguas por “Espírito de Deus” e “espírito maligno”. Numa tradução bastante próxima da originalidade, i.e., sem nenhuma interpretação dos termos lê-se רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה (Ruah Elohim raah - Espírito de Deus mau) em 1 Sam. 18:10 assim: Espírito de Deus mau. Obviamente que a tradução “espírito mal da parte de Deus” acaba por ser interpretativa. A ideia era de que o mal só atuaria sob permissão de Deus. Em face disto, o pensamento desenvolvido fundamentava-se em que Deus era o causador, uma vez que nada acontecia sem seu consentimento. Este, entretanto, é um tópico a que este trabalho não se propõe resolver e nem mesmo abordar. Fato é que a expressão רוּחַ־אֱלֹהִים (Espírito de Deus) acrescida de רָעָה , portanto, “espírito de Deus mau” incide em usos distintamente profano (LYS, 1962).
A expressão רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה (Ruah Elohim raah - Espírito de Deus mau) acontece apenas três vezes no AT e num mesmo contexto, i.e., dentro da história do rei Saul: 1 Sam. 16:15-16 e 1 Sam. 18:10. Uma expressão similar ocorre apenas uma vez no livro de 1 Sam. 19:9: רוּחַ יְהוָה רָעָה (espírito do Senhor mau). Entretanto, a expressão equivalente רוּחַ־רָעָה (espírito mau) acontece mais três vezes, sendo uma no livro de Juízes 9:23 e outras duas dentro do contexto mencionado da história de Saul: 1 Sam. 16:14 e 1 Sam. 16:23. O primeiro texto (1 Sam. 16:14) traz consigo certa importância no que se refere à compreensão deste assunto: “Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR (רוּחַ יְהוָה), da parte deste um espírito maligno (רוּחַ־רָעָה מֵאֵת יְהוָה) o atormentava.” A partir deste texto se principia a compreensão de que o espírito mau (רוּחַ־רָעָה) que atormentava Saul não era o mesmo Espírito do SENHOR (רוּחַ יְהוָה), pois este havia se retirado dele. O espírito mau que o atormentava era um demônio, conforme afirma o historiador Flávio Josefo (2008):

“Saul, ao contrário, foi tomado por um espírito mau, que parecia querer esganá-lo a todo instante. Os médicos não encontraram outro remédio para esse mal a não ser mandar algum músico competente cantar hinos sagrados, ao som de harpa, quando o demônio o agitasse. Procuraram por toda parte e disseram-lhe que somente uma pessoa poderia fazê-lo: um dos filhos de Jessé, de nome Davi, que era não somente excelente músico, mas também muito belo e capaz de servi-lo na guerra.”

Esta dicotomia entre o espírito maligno e o Espírito do Senhor é percebida nos escritos de Qumran (HORN, 1996). Teologicamente o vocábuloרוּחַ  era aplicado tanto no contexto em que se referia ao espírito mal quanto ao Espírito Santo de Deus. Uma das doutrinas básicas desenvolvidas em Qumran postulava a existência de dois espíritos que atuavam no comportamento humano: o espírito da verdade e o espírito da maldade. Ambos eram designados por Deus para atuarem nos filhos da justiça e nos filhos da maldade respectivamente. Evidencia-se logicamente uma espécie de predestinação nesta abordagem, o que também não é o foco do presente estudo. Contudo, a marcante crença destes dois espíritos antagônicos, alude ao tema proposto pelo presente trabalho.
No pensamento rabínico desenvolvido no período intertestamentário, o Espírito de Deus (רוּחַ־אֱלֹהִים) é um modo de Sua auto revelação, bastante evidenciado no santuário que era o lugar da presença de Deus.             Esta crença rabínica sofreu declínio no período em que o I Templo foi destruído, pois, segundo esta proposta, a destruição do Templo causou a inatividade do Espírito (HORN, 1996).
            Voltando-se mais propriamente para o estudo da expressão que é o foco desta seção רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה (Ruah Elohim raah - Espírito de Deus mau), é importante observar como os judeus que compuseram a LXX a traduziram: ora usando πνεῦμα πονηρὸν (espírito mau), ora πνεῦμα πονηρὸν παρὰ κυρίου (Pneuma ponerón pará kuriou - espírito mau desde o Senhor) ou ora πνεῦμα κυρίου πονηρὸν (espírito do Senhor mau). Veja-se abaixo os paralelos linguísticos entre as versões grega, hebraica e português.

1 Samuel 16:14
καὶ πνεῦμα κυρίου ἀπέστη ἀπὸ Σαουλ καὶ ἔπνιγεν αὐτὸν πνεῦμα πονηρὸν παρὰ κυρίου.
וְר֧וּחַ יְהוָ֛ה סָ֖רָה מֵעִ֣ם שָׁא֑וּל וּבִֽעֲתַ֥תּוּ רֽוּחַ־רָעָ֖ה מֵאֵ֥ת יְהוָֽה׃
Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR, da parte deste um espírito maligno o atormentava.

1 Samuel 16:15
καὶ εἶπαν οἱ παῖδες Σαουλ πρὸς αὐτόν ἰδοὺ δὴ πνεῦμα κυρίου πονηρὸν πνίγει σε.
  וַיֹּאמְר֥וּ עַבְדֵֽי־שָׁא֖וּל אֵלָ֑יו הִנֵּה־נָ֧א רֽוּחַ־אֱלֹהִ֛ים רָעָ֖ה מְבַעִתֶּֽךָ׃
 Então, os servos de Saul lhe disseram: Eis que, agora, um espírito maligno, enviado de Deus, te atormenta.

1 Samuel 16:16
εἰπάτωσαν δὴ οἱ δοῦλοί σου ἐνώπιόν σου καὶ ζητησάτωσαν τῷ κυρίῳ ἡμῶν ἄνδρα εἰδότα ψάλλειν ἐν κινύρᾳ καὶ ἔσται ἐν τῷ εἶναι πνεῦμα πονηρὸν ἐπὶ σοὶ καὶ ψαλεῖ ἐν τῇ κινύρᾳ αὐτοῦ καὶ ἀγαθόν σοι ἔσται καὶ ἀναπαύσει σε.
יֹאמַר־נָ֤א אֲדֹנֵ֙נוּ֙ עֲבָדֶ֣יךָ לְפָנֶ֔יךָ יְבַקְשׁ֕וּ אִ֕ישׁ יֹדֵ֖עַ מְנַגֵּ֣ן בַּכִּנּ֑וֹר וְהָיָ֗ה בִּֽהְי֙וֹת עָלֶ֤יךָ רֽוּחַ־אֱלֹהִים֙ רָעָ֔ה וְנִגֵּ֥ן בְּיָד֖וֹ וְט֥וֹב לָֽךְ׃ פ
Manda, pois, senhor nosso, que teus servos, que estão em tua presença, busquem um homem que saiba tocar harpa; e será que, quando o espírito maligno, da parte do SENHOR, vier sobre ti, então, ele a dedilhará, e te acharás melhor.

1 Samuel 16:23
καὶ ἐγενήθη ἐν τῷ εἶναι πνεῦμα πονηρὸν ἐπὶ Σαουλ καὶ ἐλάμβανεν Δαυιδ τὴν κινύραν καὶ ἔψαλλεν ἐν τῇ χειρὶ αὐτοῦ καὶ ἀνέψυχεν Σαουλ καὶ ἀγαθὸν αὐτῷ καὶ ἀφίστατο ἀπ᾽ αὐτοῦ τὸ πνεῦμα τὸ πονηρόν
וְהָיָ֗ה בִּֽהְי֤וֹת רֽוּחַ־אֱלֹהִים֙ אֶל־שָׁא֔וּל וְלָקַ֥ח דָּוִ֛ד אֶת־הַכִּנּ֖וֹר וְנִגֵּ֣ן בְּיָד֑וֹ וְרָוַ֤ח לְשָׁאוּל֙ וְט֣וֹב ל֔וֹ וְסָ֥רָה מֵעָלָ֖יו ר֥וּחַ הָרָעָֽה׃ פ
E sucedia que, quando o espírito maligno, da parte de Deus, vinha sobre Saul, Davi tomava a harpa e a dedilhava; então, Saul sentia alívio e se achava melhor, e o espírito maligno se retirava dele.
É digno de nota algumas nuances que se extraem deste último texto:
  a)    Não ocorre o termo רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה.
  b)    Entretanto, neste verso, o termo רוּחַ־אֱלֹהִים (Espírito de Deus) que aparece no início, é intercambiado com רוּחַ הָרָעָה (espírito mal/maligno) no final do verso, como estando fracionado diferentemente do que ocorre no verso 16 em que a expressão vem completa: רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה (espírito de Deus mau). Isto, de maneira precisa, clarifica a ideia de que o termo רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה é um espírito maligno, um demônio.
  c)    Esta visão é reforçada quando se toma a mesma expressão na LXX. Os escritores judeus da versão LXX entenderam que os termosרוּחַ־אֱלֹהִים (e apenas neste contexto) e רוּחַ הָרָעָה são traduzidos da mesma maneira: πνεῦμα πονηρὸν (espírito maligno).
Numa breve análise do NT, também se notará que a mesma expressão usada na LXX (πνεῦμα πονηρὸν) para traduzir (רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה) é utilizada quando claramente se fala da ação pessoal de um demônio, conforme se observa abaixo:

Lucas 7:21
ἐν ἐκείνῃ τῇ ὥρᾳ ἐθεράπευσεν πολλοὺς ἀπὸ νόσων καὶ μαστίγων καὶ πνευμάτων πονηρῶν καὶ τυφλοῖς πολλοῖς ἐχαρίσατο βλέπειν.
Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos.

Lucas 8:2
καὶ γυναῖκές τινες αἳ ἦσαν τεθεραπευμέναι ἀπὸ πνευμάτων πονηρῶν καὶ ἀσθενειῶν, Μαρία ἡ καλουμένη Μαγδαληνή, ἀφ᾽ ἧς δαιμόνια ἑπτὰ ἐξεληλύθει,
...e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios;

Atos 19:12
ὥστε καὶ ἐπὶ τοὺς ἀσθενοῦντας ἀποφέρεσθαι ἀπὸ τοῦ χρωτὸς αὐτοῦ σουδάρια ἢ σιμικίνθια καὶ ἀπαλλάσσεσθαι ἀπ᾽ αὐτῶν τὰς νόσους, τά τε πνεύματα τὰ πονηρὰ ἐκπορεύεσθαι.
...a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os espíritos malignos se retiravam.

Atos 19:13
Ἐπεχείρησαν δέ τινες καὶ τῶν περιερχομένων Ἰουδαίων ἐξορκιστῶν ὀνομάζειν ἐπὶ τοὺς ἔχοντας τὰ πνεύματα τὰ πονηρὰ τὸ ὄνομα τοῦ κυρίου Ἰησοῦ λέγοντες· ὁρκίζω ὑμᾶς τὸν Ἰησοῦν ὃν Παῦλος κηρύσσει.
E alguns judeus, exorcistas ambulantes, tentaram invocar o nome do Senhor Jesus sobre possessos de espíritos malignos, dizendo: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega.

Atos 19:16
καὶ ἐφαλόμενος ὁ ἄνθρωπος ἐπ᾽ αὐτοὺς ἐν ᾧ ἦν τὸ πνεῦμα τὸ πονηρόν, κατακυριεύσας ἀμφοτέρων ἴσχυσεν κατ᾽ αὐτῶν ὥστε γυμνοὺς καὶ τετραυματισμένους ἐκφυγεῖν ἐκ τοῦ οἴκου ἐκείνου.
E o possesso do espírito maligno saltou sobre eles, subjugando a todos, e, de tal modo prevaleceu contra eles, que, desnudos e feridos, fugiram daquela casa.
Este mesmo parecer pode-se averiguar no livro Deuterocanônico de Tobias onde a versão da LXX não diferencia πνεῦμα πονηρόν (espírito maligno) de δαιμόνιον (demônio), sendo os dois classificados como um mesmo ser, como também se vê na Vulgata Latina.

Tobias 6:8
καὶ εἶπεν αὐτῷ ἡ καρδία καὶ τὸ ἧπαρ ἐάν τινα ὀχλῇ δαιμόνιον ἢ πνεῦμα πονηρόν ταῦτα δεῖ καπνίσαι ἐνώπιον ἀνθρώπου ἢ γυναικός καὶ οὐκέτι οὐ μὴ ὀχληθῇ
Et respondens angelus, dixit ei: Cordis ejus particulam si super carbones ponas, fumus ejus extricat omne genus daemoniorum sive a viro, sive a muliere, ita ut ultra non accedat ad eos.
Bíblia de Jerusalém: “Ele respondeu: o coração e o fígado servem para serem queimados na presença de homem ou mulher atacados por algum demônio ou espírito mau. A fumaça espanta o mal e faz o demônio desaparecer para sempre.”
Uma vez identificado que רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה é o mesmo πνεῦμα πονηρόν ou δαιμόνιον, i.e., uma entidade pessoal, distinta da divindade, naturalmente surge o questionamento: Se a expressão רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה, é identificada assim, como um ser distinto e pessoal (o demônio) e não um lado mau de Deus, conforme ficou esclarecido neste trabalho, por que a expressãoרוּחַ־אֱלֹהִים  em demais passagens no AT (como no relato da criação e no ministério profético, na habilitação administrativa e artísticas arquitetônico-artesanal e em outras abordagens mencionadas no trabalho), também não se pode aplicar a um ser pessoal e distinto? Se o רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה deve ser entendido como um ser pessoal, distinto e fora da divindade, i.e., um demônio, fica, evidenciado, através desta correlação que a expressão antitética a esta, a saber, רוּחַ־אֱלֹהִים, é também um ser pessoal, distinto e diferente do Pai e do Filho, mas pertencente à mesma Divindade.
  

CONCLUSÃO:

A presente pesquisa buscou reunir a partir da análise de textos bíblicos, estes como em sua forma final, diversas nuances do que se sugere acerca da expressão רוּחַ־אֱלֹהִים. As informações reunidas em blocos temáticos externaram que desde a criação o ser רוּחַ־אֱלֹהִים já estivera participativo. Fora salientado seu envolvimento com a capacitação de líderes que julgavam e orientavam a nação e, de igual modo, nos momentos históricos em que personagens eram apontados para efetivar uma obra de libertação e condução do povo, o que se dera, de maneira muito acentuada, na era dos juízes. Abordou-se também que fora por meio do “encher do רוּחַ־אֱלֹהִים” que se dera a criação do tabernáculo mosaico e suas diversas minúcias ornamentais, isto de modo similar à criação do cosmos em Gen 1.
Observou-se que de modo, relativamente, geral as dimensões do ministério profético estivera ligado e em plena dependência da atuação do Espírito de Deus (רוּחַ־אֱלֹהִים), e de fato, é no discorrer do ministério dos profetas que a noção do רוּחַ־אֱלֹהִים ganha mais expressão e proporcionalmente mais informações acerca dele passa a ter lugar.
Trabalhando-se os tópicos pessoalidade e distinguibilidade, fora enredado tópicos quanto às utilizações aproximadas dos termos רוּחַ־אֱלֹהִים e רוּחַ־אֱלֹהִים רָעָה dispostos nos textos de 1 Sam. 16:15-16; 18:10 e 19:9, estes como proposições que corroboram as prováveis  pessoalidade e distinguibilidade. Sinalizou-se ainda que nuances de pessoalidade em רוּחַ estão, portanto, acentuadamente ligadas aos termos אֱלֹהִים e יְהוָה provendo, assim, uma desafiadora identificação com estes termos, o que dificulta a percepção de sua distinguibilidade. Esta, por sua vez, se expressa, razoavelmente, perceptiva no material isaínico. É, portanto, consenso na erudição bíblica – o que se pode dizer ainda mais enfaticamente da veterotestamentária, que a acentuidade preeminente na obra do רוּחַ־אֱלֹהִים sobrepuja em muito as sugestivas quanto à sua pessoalidade e mais ainda sua distinguibilidade.
Deve-se, portanto, reconhecer que construir argumentação para a pessoalidade e distinguibilidade do ser רוּחַ־אֱלֹהִים é tarefa um tanto difícil. No entanto, a observação honesta, atentiva e responsável do material bíblico o faz possível. Destarte, a análise bíblica intertextual, considerando-se o seu material como disposto em sua forma canônica, permite construir o conceito teológico do רוּחַ־אֱלֹהִים num fluxo ascendente, acentuando primordialmente a natureza de sua obra, isto em termos impessoais, característica esta que não implica necessariamente na excludência das nuances de sua pessoalidade. Esta, por sua vez, em forte identificação com אֱלֹהִים/ יְהוָה que até tem sido sugerido impressões de uma extensão da pessoalidade de אֱלֹהִים/,יְהוָה no entanto expressões isaínicas favorecem a percepção de certa distinguibilidade, visto ser a maneira mais adequada e sintaticamente praticável de abordar-se os textos dispostos nos capítulos 40: 13-14, 48:12-17, com ênfase no v. 16, 42:1; 61:1 e 63:8-11.



  

BIBLIOGRAFIA

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YOUNG, E. J. The interpretation of Genesis 1.2. Westminster Theological Journal, v. 23, p. 173, 1960-61.

Justiça social nos Salmos


JUSTIÇA SOCIAL NOS SALMOS


Leitura bíblica (texto usado: Nova Tradução na Linguagem de Hoje)

Salmo 10. 17 e 18:
SENHOR Deus, tu ouvirás as orações dos que são perseguidos e lhes darás coragem. Tu ouvirás os gritos dos oprimidos e dos necessitados e julgarás a favor deles para que seres humanos, que são mortais, nunca mais espalhem o terror.

Salmo 72.1-4:
Ó Deus, ensina o rei a julgar de acordo com a tua justiça! Dá-lhe a tua justiça para que governe o teu povo com honestidade e trate com justiça os explorados. Que haja prosperidade no país, pois o povo faz o que é direito! Que o rei julgue os pobres honestamente! Que ele ajude os necessitados e derrote os que exploram o povo!

Salmo 41.1:
Felizes são aqueles que ajudam os pobres, pois o SENHOR Deus os ajudará quando estiverem em dificuldades!


Momento de interação

Notas para o pregador:

Explicar aos ouvintes que nesta reflexão descobriremos o quanto o povo de Deus na bíblia cantava sobre justiça social, e o que isso implica para a igreja hoje.

Destaque o fato de que o texto para a reflexão incluiu citações de três salmos, e que cada um fala claramente sobre questões sociais. Explicar que os salmos formaram o hinário, ou arquivo multimídia, dos cânticos de louvor dos judeus.

Pedir, agora, que pessoas citam louvores que cantamos na igreja hoje que falam sobre justiça social. Dê um tempinho para eles pensarem e falarem, encorajando se for difícil. Provavelmente a lista vai ser pequena.

O poder espiritual da música

Apesar de talvez não parecer, uma das áreas da vida da igreja onde mais aprendemos e absorvemos conceitos sobre Deus, e a vida cristã, é nos cânticos de louvor. Pense quantas vezes durante a semana passada você cantou algum hino ou cântico, e depois conte as vezes que citou a pregação de domingo passado. Provavelmente os cânticos ganham. Até muitos pastores usam as palavras de cânticos, conscientemente ou inconscientemente, para reforçar as suas pregações. Aquilo que cantamos e as músicas que escutamos tendem a enraizar-se nas nossas mentes, nas emoções e nas nossas almas. Os seus conceitos dão direção às nossas emoções e decisões. Uma música, durante anos não ouvida, pode trazer à memória alegrias, tristezas e lições aprendidas muito mais cedo na vida.

Isso pode ser uma coisa muita positiva na vida da igreja. Em Colossenses 3.16, o apóstolo Paulo vincula a instrução mútua dos crentes ao canto de salmos hinos e canções sagradas.  Por isso é bastante importante nós prestarmos atenção àquilo que cantamos, e àquilo que como consequência estamos aprendendo sobre Deus e a vida cristã. A letra e a melodia podem nos fazer sentir bem – mas elas refletem verdades bíblicas?




Reflexão central


Tendo esta pergunta em vista, gostaríamos de afirmar que não tem melhor lugar para nós procurarmos aquilo que devemos estar cantando, e os temas que devem estar nos nossos louvores, de que o hinário bíblico, os Salmos. E é especificamente diante do tema de justiça social que encontramos uma surpreendente dissonância entre os cânticos bíblicos e os louvores das nossas igrejas hoje no Brasil. Simplesmente, não cantamos quase nada sobre justiça, pobreza, pecado social coletivo, opressão, ou a necessidade de socorrer os excluídos. Enquanto os Salmos são encharcados destes temas.

Em uma das oficinas do Congresso de Ação Social da Convenção das Igrejas Batistas Unidas do Ceará (CIBUC), em 2008, estudamos esta questão. Os participantes foram divididos em cinco grupos, para cada um pesquisar, durante quinze minutos, blocos de trinta Salmos, assim cobrindo o livro todo. A pesquisa foi simples: procurar Salmos que contêm os temas, pobreza, justiça ou injustiça social, fome e outras questões relacionadas à vontade de Deus para a sociedade humana. Nestes poucos minutos os grupos encontraram 45 cinco Salmos dos 150. Conclusão: pelo menos 30% (praticamente um terço) dos cânticos que o povo da Bíblia, isso é, Jesus e os seus compatriotas, cantava na sinagoga, abordavam questões sociais. Justiça social e cuidados para com os pobres foram temas constantes nos louvores de Jesus. No hinário batista mais novo, o Hinário para o Culto Cristão, encontram-se SEIS hinos e SETE leituras bíblicas sob o tema Responsabilidade Social, no índice de seiscentas e treze itens: 2 e pouco por cento. Essa é a dissonância a que eu me refiro.

A igreja do Novo Testamento demonstrou uma profunda preocupação com questões sociais. Mesmo com os relatos das ações sociais desta igreja disponíveis permanentemente para podermos ler, muitas das nossas igrejas nem sonham em preocupar-se com questões sociais. Uma das razões pode ser as músicas que estamos cantando.

[Nota para o pregador: Se na tua igreja tiver mais costume de pregações interativas, no lugar de relatar a experiência acima citada, faça o mesmo exercício com os ouvintes, para eles mesmos fazerem a descoberta de quantos Salmos tratam destes temas. Terá que reduzir o tempo dado para a pesquisa a cinco ou dez minutos, para caber dentro do contexto de culto]

Vamos examinar isso com mais detalhes:

Salmo 41:1 é uma exortação explícita para “ajudar os pobres” (BLH).  Muitos outros Salmos declaram Deus (ex: 9.9; 10.17-18) ou o rei (ex: 72.1-4) defensores dos pobres e mantenedores da justiça social.

Poderia talvez argumentar-se que, ao clamar e orar constantemente ao Senhor por misericórdia no meio de tanta injustiça (ex: 34.6; 71; 120; 121), os Salmos indicam que devemos olhar para Deus, e não aos seres humanos, para corrigir os maus sociais. Por outro lado, poderíamos igualmente argumentar que, como imitadores de Cristo (1 Cor 11.1), chamados a vivermos os valores do Reino de Deus, crentes devem seguir o exemplo de Deus e do seu Rei em: julgar honestamente os aflitos do povo, salvar os filho dos necessitados, e esmagar o opressor. (Salmo 72:4)

Ainda que concluamos que os Salmos realmente ensinam que devemos olhar somente a Deus para Ele restaurar a justiça, ainda fica claro que o povo de Deus deve estar cantando sobre pobreza e injustiça, ansiosamente desejando uma sociedade livre da opressão.
Aplicação

O teólogo Americano, Tel, referindo-se aos louvores no contexto estadunidense, reclama de um “cardápio desnutrido” de cânticos, e pergunta, “Em limitarmos os cânticos da comunidade àqueles que cantam de alegria, será que nós estamos, de fato, tentando distanciar a realidade dos problemas do mundo de nós?”. É uma pergunta que poderíamos colocar ao nosso povo evangélico, acrescentando uma preocupação de que o foco em rogar constantes bênçãos pessoais sobre “a minha vida” nos faz esquecer que nós fomos chamados por Cristo para abençoar e cuidar dos outros, não para sermos egoístas. (Provavelmente, se analisarmos o nosso ‘cardápio desnutrido’ procurando músicas sobre evangelismo, ele estaria em falta nesta área também.)

Precisamos primeiro, então, resgatar e cantar os cânticos belos dos nossos hinários, cantores, e artistas evangélicos, que celebram os temas de justiça, pobreza, o cuidar do outro, e o levantar a voz em favor dos oprimidos.  Precisamos cantar e perguntar-nos “Que Estou Fazendo Se Sou Cristão?” (Hinário Para o Culto Cristão, Nº 552)

[Nota para o pregador: No kit da CBB para este mês de Ação Social encontram-se sugestões de outras músicas apropriadas. Neste momento da pregação podem ser citadas letras boas, que devem ser pesquisadas antes da pregação. Pode também combinar com o grupo de louvor para cantar algo logo após a mensagem. Sugestões “Meus dias, teus dias” Armando Filho; “Justiça Social” ou “Para Cima Brasil”, ambos por João Alexandre]

Mas, em segundo lugar, já que não existem muitas destas músicas, e logo esgotaremos o repertório, vamos compor mais! Os músicos competentes das nossas igrejas podem ser encorajados a fazer isso. Quem sabe, novos compositores e compositoras se revelarão. Qualquer dificuldade em encontrar poetas pode ser superada utilizando as letras prontas dos Salmos!

Resumo final

Não devemos esquecer a razão para que fazer isso: porque a música é capaz de nos ensinar verdades sobre a vida cristã.

Uma das verdades da vida Cristã é que Deus chama o seu povo para cuidar dos excluídos e oprimidos da sociedade.

Usando as palavras que Paulo escreveu a Tito (3.14)

“... quanto aos nossos, que aprendam também a distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se tornarem infrutíferos”


Mark E Greenwood

Abril 2009

O significado de Justiça na Biblia

Deixa por estar, porque assim nos convêm cumprir toda Justiça



Preâmbulo
A intenção deste estudo é conhecer o significado de "justiça" no Bíblia. Pretendo começar pelo Novo Testamento (NT). As seis citações, abaixo mostradas, pertencem ao NT, e o conceito de "justiça" nelas mostrado, não parece adequar com a definição secular, conforme o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, publicado pela Editora Objetivo, Rio de Janeiro, 2001: "Justiça é o caráter, qualidade do que está em conformidade com o que é direito com o que é justo; princípio moral em nome do qual o direito deve ser respeitado".

Evidentemente que o conceito secular de justiça também se encontra nos escritos do NT. Jesus e os seus discípulos estão sempre em confronto com o conceito secular de justiça e lei. Assim: Guardai-vos de praticar a vossa justiça diante dos homens para serdes vistos por eles (Mt. 6.1)

Na reportagem sobre o julgamento de Jesus, no Sinédrio, Mateus não cita a palavra "justiça", talvez, porque o conceito que ele possuía não se assemelhava ao dos juízes a serviço do Império Romano (conforme Mt 26.57-68).

Eis alguns textos do NT que mostram um conceito diferente do secular:

Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça... (Mt 6.33)

Porque nele a justiça de Deus se revela de fé para a fé, conforme está escrito: 'o justo viverá da fé (Rm 1.17)

Por conseguinte, assim como pela falta de um só resultado a condenação para todos os homens; do mesmo modo, da obra de justiça de um só, resultou para todos os homens justificação que traz a vida. (Rm 5.18)

... como imperou o pecado na morte, assim também imperasse a graça por meio da justiça, para a vida eterna, através de Jesus Cristo... (Rm 5.21)

... segue a justiça, a fé, a caridade, a paz com aqueles que, de coração puro invocam o nome do Senhor. (2Tm 2.22)


Conclusão 1:

1. Através destes textos do NT, percebe-se que a palavra "justiça" está próxima de termos como:
Reino de Deus,
fé, fidelidade,
justificação que traz vida e vida eterna,
amor e paz.

2. Os textos bíblicos mencionados não identificam a "justiça" com tribunal, lei, julgamento, condenação, prisão etc.

3. Diante desta constatação, surge uma questão: qual é a origem desse conceito que Jesus e todo o NT apresentam? Certamente no AT.

O conceito de "justiça" no Antigo Testamento (AT)

O primeiro conceito de "justiça" vem do mundo secular. O interesse na "justiça", na Bíblia, tem sua origem nas exigências pela justiça social e política, bem como pelos direitos humanos. A Bíblia, como um todo, não nega a importância dessas demandas, porém reinterpreta os objetivos da "justiça", para dar-lhe um novo significado.

Diante dessa tarefa de resignificar o tradicional conceito de "justiça", faz-se necessário uma pergunta: "Qual é a base do AT para a reformulação do conceito de 'justiça'?"

Tentativa de resposta (em três itens):

  • A experiência de fé que o povo bíblico adquiriu na história. As normas e preceitos, contidos no Pentateuco (ou melhor, Torá que significa "instrução", "ensino divino"), são pautas para a formação e constituição de um povo.
  • Desde a origem, o povo bíblico experimentou o amor e a bondade de Deus, no seu dia-a-dia. A agressão, a violência, a opressão são termos desagradáveis na descrição da história bíblica. As leis substantivas e básicas que o Pentateuco/Torá contém estão baseadas na história da salvação: Eu sou Javé teu Deus que te fez sair da terra do Egito, da casa da escravidão (Ex 20.2).

Assim, as normas que seguem têm que ser lidas e obedecidas em razão do Senhor ter salvo o povo hebreu da escravidão.

  • É interessante observar que o Pentateuco/Torá não contém somente leis. A maior parte dos cinco primeiros livros da Bíblia é constituída de narrativas. As narrativas, como a história de Moisés, embora sem a linguagem legal, constituem-se, na verdade, normas de conduta para o povo. Elas são formas pedagógicas para instruir o povo.
  • O povo bíblico foi formado e educado em torno dessa história da salvação. A celebração da Páscoa reforçou a memória dessa história. Nessa celebração, não havia lugar para ódio, mas salvação. Portanto, o povo foi educado em torno de experiências históricas que o levaram a mudar o seu modo de fazer justiça. O critério da justiça não mais era a lei escrita por seres humanos, mas o caráter do Deus que salva, perdoa e oferece oportunidade de uma nova vida.


O conceito de "justiça" no livro de Salmos

O livro de Salmos possui a maior ocorrência, de toda Bíblia, dos termos "justiça" e "direito". Em se tratando do hinário do Templo, usado nas celebrações comunitárias, é surpreendente esta constatação. O culto, no AT, estava intensamente preocupado com a justiça. Os salmos bíblicos mostram inúmeros exemplos de como o povo bíblico entendia a "justiça". É importante notar que as palavras "justiça" e "direito" estão sempre próximas dos termos "amor", "bondade", "fé/fidelidade", "paz" entre outras. Eis algumas demonstrações.

Disciplina, instrução - torah

O Senhor é bom e correto,
e Ele ensina o caminho aos pecadores
Ele encaminha os pobres conforme a justiça, direito. (Sl 25.8-9).

Integridade - tom

Eis a história de Noé:
Noé era um homem justo, íntegro...
e andava com Deus (Gn 6.9)

Foi-te anunciado, ó homem, o que é bom, o que Senhor exige de ti:
que pratiques o direito, amar a bondade e caminhar humildemente com o teu Deus. (Mq 6.8)

Paz, vida plena - xalom

Amor e verdade se encontram,
Justiça e paz se abraçam
da terra germinará a verdade
e a justiça se inclinará do céu
o próprio Senhor dará a felicidade
E a nossa terra dará o seu fruto
A justiça caminhará à sua frente
E com seus passos traçará um caminho. (Sl 85.11-14)

Bondade, misericórdia - hesed

O Senhor realiza atos justos
fazendo justiça a todos os oprimidos...
O Senhor é compaixão e graça,
lento para a cólera e cheia de bondade. (Sl 103.6 e 8)

Compaixão - rahum

Difundirão a lembrança da tua bondade imensa
E aclamarão a tua justiça.
O Senhor é piedade e compaixão;
Lento para a cólera e cheio de amor;
O Senhor é bom para todos,
Compassivo com todas as suas obras. (Sl 145.7-9)

Fé, verdade - emet

Tens um braço poderoso,
Tua mão é forte e tua direita elevada.
Justiça e direito são a base do seu trono,
Amor e verdade precedem a tua face, Senhor. (Sl 89.14-15)

Fidelidade, lealdade - emunah

O justo viverá por sua fidelidade. (Hab 2.4)

Não escondi tua justiça no fundo do meu coração,
Falei da tua fidelidade e de tua salvação;
Não ocultei o teu amor e a tua verdade à grande assembléia. (Sl 40.11)


Conclusão 2:

1. Há um ditado latino que espelha bem a justiça secular: "Dura é a lei, mas é a lei". Nota-se nesse ditado a inflexibilidade e dureza da lei e sua aplicação. A Bíblia não define assim sua justiça.

2. A tradução do termo hebraico torah por "lei" é indevida. O substantivo torah vem da raiz verbal yarah que quer dizer lançar, ensinar, instruir. O Salmo 19.7-9 lança mais luzes sobre o significado de Torá.
A Tora de Javé é perfeita, faz a vida voltar;
O testemunho de Javé é firme, torna o sábio simples.
Os preceitos de Javé são retos, alegram o coração;
O mandamento de Javé é claro, ilumina os olhos.
O temor de Javé é puro, estável para sempre;
As decisões de Javé são verdadeiras e justas igualmente.

Nota-se que a Torá/lei do Senhor não é dura e inflexível. Pelo contrário, é tão perfeita que faz a vida voltar; é firme e torna o sábio simples, alegra o coração, ilumina os olhos. Por quê? A resposta está no critério do julgamento divino: amor, bondade etc.

3. Assim se desvenda o mistério nas palavras de Jesus para João Batista: Deixa estar por enquanto, pois assim nos convém cumprir toda a justiça. (Mt 3.15). A missão básica de Jesus Cristo não foi estabelecer um tribunal para julgar e condenar as pessoas.

O Conceito bíblico de pecado.

O Conceito bíblico de pecado.
Se você pedir para alguém definir o conceito de pecado é bem possível que ela passe uma lista de mandamentos, listando assassinato, roubo e outras ações proibidas.

O Hebraico, no entanto, usa a palavra "חֵטְא" (pronunciada: chet) para pecado. A palavra "לְהַחטִיא" carrega a ideia de cometer um erro e errar um alvo. 


Qual é o significado de Pecado em Hebraico?
Juízes 20:16 diz isto sobre os guerreiros de Benjamin: “Entre todo este povo havia setecentos homens escolhidos, canhotos, os quais atiravam com a funda uma pedra em um cabelo, e não erravam.” Esta fraseלֹא יַחֲטִא (pronunciada: lo yachti) significa “errar o alvo”.

Relacionado com "חֵטְא" (pronunciada: chet) há uma forma mais larga desta palavra "חַטָּאת" (pronunciada: chatat) era o nome da “oferta de pecado” no Templo de Jerusalém (Lev 4:3). 


É de tirar o fôlego ver como o idioma hebraico funciona. Essa mesma palavra que significava “pecado/cometer um erro /errar o alvo”, conectada com a oferta de pecado no próprio Templo, se transforma em uma palavra que pode significar o conceito de purificação!
 
Em Levítico 14:49, os israelitas são instruídos sobre como purificar a casa de fungos estranhos, “Para purificar a casa, ele deve oferecer dois pássaros…” A frase “para purificar a casa” é"לְחַטֵּא אֶת־הַבַּיִת"  (lechateh et habait) em hebraico tem a palavra "חֵטְא" (chet) – a mesma palavra conectada com “pecado/oferenda de pecado”. Tanto que no moderno Estado de Israel, usamos o termo"חִטֵּא" (pronunciada: chiteh) para definir “desinfetação”.

Você sabia? Qual a Fruta que Adão e Eva comeram?



A Bíblia não menciona qual era a fruta da árvore do conhecimento do bem e do mal, que não devia ser comida por Adão e Eva. Uma tradição européia associa essa fruta com a maçã. Em latim, a palavra malum significa tanto “maçã” como “mal”, o que pode ter originado essa tradição.

Estudo Bíblico. Gênesis 1.1-4. A vida surge em meio ao Caos.


 No princípio, criou Deus os céus e a terra. 
 E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. 
 E disse Deus: Haja luz. E houve luz. 
 E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. 

Este pequeno trecho da poesia da criação, de Gênesis 1, por sí só, é bela.
Apesar da tradição bíblica dizer que o pentateuco ( os cinco primeiros livros da Bíblia terem sido escritos por Moisés, a pesquisa bíblica atual, mostra claramente que ele não o fez. além das muitas variações textuais, de estilo e de contexto que nos ajudam a fortalecer esta tese.

Se não foi Moisés quem escreveu, quem foi? como surgiu este texto? São perguntas que tentaremos responder brevemente agora.

A data exata não se tem, mas com certeza este poema da criação é do século VI a.C. Neste período o povo de Israel era prisioneiro, escravo, cativo e humilhado pelo povo Babilônico. Neste período a fé de Israel estava em grande risco, os jovens que não viram a glória de Israel quando este andava no caminho de Deus (YaHWéH), começavam a se questionar sobre a força do Deus de Israel, além do mais, povo que é escravo não tem direito de descansar, nem mesmo de cultuar o seu Deus.

Neste momento de crise, a fé no Deus verdadeiro, inspira os sacerdotes que estavam em "terra estranha" a escrever....

vamos rapidamente olhar o quão profundo é estes quatro versículos acima.


1 בְּ·רֵאשִׁ֖ית בָּרָ֣א אֱלֹהִ֑ים אֵ֥ת הַ·שָּׁמַ֖יִם וְ·אֵ֥ת הָ·אָֽרֶץ׃ 
2 וְ·הָ·אָ֗רֶץ הָיְתָ֥ה תֹ֙הוּ֙ וָ·בֹ֔הוּ וְ·חֹ֖שֶׁךְ עַל־ פְּנֵ֣י תְה֑וֹם וְ·ר֣וּחַ אֱלֹהִ֔ים מְרַחֶ֖פֶת עַל־ פְּנֵ֥י הַ·מָּֽיִם׃ 
3 וַ·יֹּ֥אמֶר אֱלֹהִ֖ים יְהִ֣י א֑וֹר וַֽ·יְהִי־ אֽוֹר׃ 
4 וַ·יַּ֧רְא אֱלֹהִ֛ים אֶת־ הָ·א֖וֹר כִּי־ ט֑וֹב וַ·יַּבְדֵּ֣ל אֱלֹהִ֔ים בֵּ֥ין הָ·א֖וֹר וּ·בֵ֥ין הַ·חֹֽשֶׁךְ׃

Em principio criou Deus... O texto começa usando a partícula bet ב, primeira letra do alfabeto hebraico, o texto mostra que antes nada nunca houve, e Deus cria, a palavra criar, no hebraico é barah ( בָּרָ֣א) está palavra é somente usada para a ação criadora de Deus, significa criar do nada, somente Deus cria do nada.
Deus cria do nada os céus, e a terra, e ele segue dizendo no verso 2, ela era sem forma e vazia. esta expressão no hebraico significa o caos, Deus manda vir a existência os céus e a terra, e o seu espirito paira sobre o caos, é assim que a LXX ( septuaginta).

Nos versos 3 e 4, Deus diz Haja Luz, e Houve luz, e viu Deus que a luz era boa e fez separação entre luz e trevas.

Em meio ao caos, Deus traz a luz, faz existir a luz, vemos que, apenas nestes 4 primeiros versículos, o poeta declara, que o Deus que traz a existência onde nada existe, e que em meio a todo o caós, ele traz luz, ele separa as trevas, ele acaba com o caós. 

e assim o poema continua, afirmando que onde havia caos Deus traz a harmonia, traz a vida, traz o shabat, ou seja, o descanso.

Talvez sua vida também esteja assim, em meio ao Caos, talvez você tenha sido escravo de suas emoções, de algum sentimento de rancor, de desespero, de desesperança. Te convido para que você venha assim como Israel em meio aquele tempo de escravidão a declarar Deus como seu salvador, como aquele que pode criar dentro de você a vida e tirar este caos. Lembre-se antes dele não há outro, e nunca houve nada, e basta uma palavra, para o seu Espirito criar vida onde só existe vazio.